Blog do Zé Antônio

Jornalista, radialista e apresentador de TV

Memórias do Rádio Esportivo

por José Antônio

Postado em 09 de Setembro de 2014 às 10:00 hrs


Waldir Rodrigues


Tudo o que ele fez teve a marca da inspiração divina, da paixão. As mulheres, os filhos, e, claro, a espetacular e exemplar carreira no rádio brasileiro. O nome: Waldir Rodrigues. A lenda: driblar a morte. E tamanha é a paixão pela vida, que retirou-se para um lar de idosos no interior mineiro.

O locutor que se orgulha de ter lançado nomes importantes da crônica esportiva - como Alberto Rodrigues, Roberto Abras, Chico Maia - não teve vida fácil. A mãe, Nair Bruno de Oliveira, enviuvou aos 19 anos. Quando o pai, Geraldo Rodrigues da Silva morreu em Sete Lagos, em 1938, com duas décadas de vida, Waldir tinha apenas três anos. A família mudou-se para Belo Horizonte e, aos 13 anos, Waldir conseguiu o primeiro emprego: de lanterninha do Cine Brasil. De dia, estudava no Colégio Batista.

Foi quando o cunhado Carlos Márcio (filho do narrador Euclides Santos), que trabalhava em rádio, viu que aquele garoto levava jeito pra coisa. Levou-o à Rádio Mineira, onde o ex-deputado e radialista Teófilo Pires preparou logo um teste como noticiarista. Daí, foi só um passo para o microfone do programa de esportes apresentado pelo chefe da equipe Armando Alberto.

Quando Januário Carneiro transferiu a Rádio Itatiaia de Nova Lima para a Capital, Waldir Rodrigues foi convidado para narrar os jogos. O primeiro: Villa Nova 1x0 América, pelo Campeonato Mineiro de 1951.

Em Belo Horizonte, foi chefe do Departamento de Esportes da Rádio Mineira. Em 1982, fez a cobertura de jogos do Atlético pela Rádio Mineira, na conquista dos Torneios de Paris e Bilbao, vice-campeão do Torneio de Madri, e amistosos na Alemanha, Holanda e Itália. Entre 1979 e 1984, coordenou as operações da Rádio Capital. Trabalhou na Rádio Inconfidência, entre 1985 e 1988.

É dele o inesquecível jargão durante as transmissões: "Atira para o arrrrrco e... gooooool!!!"

Tudo começou na década de 30, na Fazenda São Tomé, no distrito de Cordisburgo, Nordeste de Minas Gerais. Pelas mãos de uma parteira, veio ao mundo alguém que correria o mundo.

Waldir cobriu dez Copas do Mundo e participou da primeira transmissão esportiva do exterior de forma exclusiva por uma emissora de rádio mineira. O Campeonato Sul Americano de 1959, disputado em Buenos Aires. Foi quando Januário lançou a célebre frase, que até hoje abre as jornadas da Itatiaia: "Nós abrimos para o rádio de Minas o caminho de todos os continentes".

Waldir, conhecido como o "mais internacional dos locutores", foi também o primeiro pioneiro no marketing do grande varejo brasileiro. Casou-se duas vezes, tem três filhos. Apaixonado também pelo esporte do amor, falando um inglês fluente, enamorou-se na Argentina, Colômbia, EUA e na Basileia, a suíça Francesca, quase rouba de vez o coração do mineirinho.

Humilde, concluiu que a concorrência jovem andava grande na área. E precisando interromper as aventuras e boemia, Waldir Rodrigues aposentou a voz. Espontaneamente, alojou-se numa instituição de idosos - Asilo Padre Antônio Ribeiro Pinto, em Rio Casca. Lá, curte dias de tranquilidade, os novos amigos e ótimas lembranças. E ainda participa, semanalmente, de um programa de debates na Rádio Extra FM.

A atuação profissional pode ser assim resumida: 1958: Copa da Suécia - transmite como repórter e comentarista para a Rádio Bandeirantes, de São Paulo; 1962: Copa do Chile - pela Rádio Globo, do Rio de Janeiro - em dobradinha com Valdir Amaral - narrou o primeiro tempo de Brasil x Tchecoslováquia. Waldir Rodrigues foi primeiro narrador do rádio mineiro transmitindo ao vivo um jogo de Copa do Mundo fora do Brasil; 1966: Copa da Inglaterra narrou alguns jogos pela Rádio Band-SP; 1970: Copa do México - pela Rádio Guarani, de Belo Horizonte; 1974: Copa da Alemanha - pela Rádio Globo-RJ; 1978: Copa da Argentina - pela rádio Itatiaia - BH; 1982: Copa da Espanha - pela Rádio Itatiaia-BH; 1990: Copa da Itália - pela rádio Itatiaia-BH; 1994: Copa dos Estados Unidos - Rádio Guanabara-RJ e Band; 1998: Copa da França - Rádio Guanabara-RJ e Band; 2002: Copa Coreia-Japão - pela Rádio Gaúcha-RS.

Saindo do Chile, depois de transmitir a conquista da Seleção Brasileira do bicampeonato mundial, Waldir fez escala de uma noite em Buenos Aires e, no dia seguinte, desembarca na base aérea do Galeão. Já em solo brasileiro, Waldir Rodrigues viu a mesma aeronave levantar voo para a Europa. Horas depois, a notícia: o avião em que ele e Osvaldo Faria estavam caiu no mar, vitimando muita gente.

Em setembro de 2001, Waldir visitou um irmão que morava em Nova York e resolvem passear no World Trade Center. Dois dias depois, assiste, assustado, as imagens do atentado terrorista às torres gêmeas.

Além de driblar a morte, Waldir Rodrigues celebrizou um dos mais controvertidos folclores do futebol mineiro. Certa vez, jogavam Atlético x América, no estádio Independência. José Alberto Teixeira, que seria chegado a umas firulas, soa o apito e os jogadores começam a correr de um lado para o outro, simulando a contenda. Mas a bola não estava no centro do gramado. Irreverente, o locutor passa a narrar: "O árbitro deu a saída! Ele autorizou o início do jogo sem a bola...". Até hoje, o árbitro nega tal façanha.

Waldir Rodrigues nasceu em 6 de março de 1934, na cidade mineira de Cordisburgo.

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