Blog do Zé Antônio

Jornalista, radialista e apresentador de TV

TÚNEL DO TEMPO - O dia em que o Maracanã entoou as "Touradas em Madri" e fez Braguinha chorar de alegria

por José Antônio

Postado em 28 de Junho de 2013 às 10:00 hrs


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Já estamos mais do que acostumados com as músicas cantadas pelas torcidas nos estádios Brasil a fora. Entretanto, o que poucos sabem, é que esse movimento que pode ser classificado como "futebol catando" teve seu início no dia 13 de julho de 1950, quando a Seleção Brasileira goleou a Espanha por 6 a 1 pela Copa do Mundo, diante de mais de 150 mil pessoas no Maracanã. Logo depois do sexto gol, toda a torcida cantou em uma só voz a marcha Touradas em Madri, de João de Barro (o inesquecível Braguinha) e Alberto Ribeiro. Esse foi mais um daqueles momentos mágicos em que a música e o futebol se encontravam nos gramados.

A expectativa em torno da Seleção Brasileira era grande naquele ano de 1950. Com base no grande time do Vasco da Gama (o popular Expresso da Vitória), a equipe comandada por Flávio Costa já havia conquistado o Campeonato Sul Americano no ano anterior e vinha de bons resultados. Depois de golear o México por 4 a 0, empatar com a Suíça em 2 a 2, e derrotar a Iugoslávia por 2 a 0, o Brasil se classificou em primeiro lugar no Grupo 1 para o quadrangular decisivo, junto com o Uruguai, a Espanha e a Suécia.

Logo na primeira partida na fase seguinte, os comandados de Flávio Costa massacraram os suecos por 7 a 1, com direito a quatro gols de Ademir Menezes. O próximo adversário seria a Espanha, do grande goleiro Antoni Ramallets e do atacante Telmo Zarra, um dos maiores ídolos da história do Atlético de Bilbao. Mais de 150 mil pessoas (fora aquelas que conseguiram entrar sem pagar ingresso) se acotovelavam no Maracanã na tentativa de ver mais uma grande atuação de Ademir, Jair, Bauer, Zizinho, Bauer e outras feras.

Aos 29 minutos do primeiro tempo, o Brasil já vencia por 3 a 0, com gols de Ademir Menezes, Jair Rosa Pinto e Chico, para a alegria da torcida brasileira. E quem pensou que os brasileiros tirariam o pé do acelerador, se enganaram. Em menos de vinte minutos, Ademir, Jair e Zizinho fariam 6 a 0 para o Brasil. Quando o atacante Silvestre Igoa fez o gol de honra da espanha, num belo voleio, todo o Maracanã já estava em festa, sem sequer cogitar a tragédia que se abateria sobre todos no dia 16 de julho contra o Uruguai.

Abaixo, um vídeo da Record com todos os sete gols do massacre brasileiro em cima dos espanhóis e com algumas imagens muito interessantes da época. Vale a pena conferir...

FICHA TÉCNICA

BRASIL 6 X 1 ESPANHA

DATA: 13 de julho de 1950

COMPETIÇÃO: Copa do Mundo de 1950

LOCAL: Maracanã (Rio de Janeiro)

PÚBLICO: 152.000 espectadores

ÁRBITRO: Reginald Leafe (Inglaterra), auxiliado por Costa (Portugal) e Mitchell (Escócia)

GOLS: Ademir Menezes aos 15', Jair Rosa Pinto aos 21', Chico aos 29' do primeiro tempo; Chico aos 10', Ademir Menezes aos 12', Zizinho, aos 16' e Igoa, aos 25' do segundo tempo.

BRASIL: Barbosa (Vasco da Gama); Augusto (Vasco da Gama) e Juvenal (Flamengo); Bauer (São Paulo), Danilo Alvim (Vasco da Gama) e Bigode (Flamengo); Friaça (São Paulo), Zizinho (Bangu), Ademir Menezes (Vasco da Gama), Jair Rosa Pinto (Palmeiras) e Chico (Vasco da Gama).

TÉCNICO: Flávio Costa.

ESPANHA: Antoni Ramallets; Gabriel Alonso e José Parra Martinez; Josep Gonzalvo, Marià Gonzalvo, Antonio Puchades; Estanislao Basora, Silvestre Igoa, Telmo Zarra, José Luís Panizo, Augustín Gaínza.

TÉCNICO: Guillermo Eizaguirre.

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O momento mágico dessa partida viria logo depois do do sexto gol brasileiro, marcado por Zizinho, aos 16 minutos do segundo tempo. Todos os mais de 150 mil espectadores começaram a entoar numa só voz a marchinha de carnaval "Touradas em Madri", composta por Braguinha e Alberto Ribeiro, e gravada por Almirante no ano de 1938. De toda aquela multidão presente no Maracanã, só um brasileiro não conseguia cantar e chorava copiosamente: o próprio Braguinha. Certa vez, ele comentou o que sentiu na tarde daquele 13 de julho de 1950...

"No Maracanã inteiro cantando Touradas de Madri, só uma pessoa não conseguia cantar: eu. Quando o povo se levantou no estádio em festa, a única coisa que eu consegui fazer foi chorar. Nunca esperei que Touradas de Madri, a marchinha que fiz com meu amigo Alberto Ribeiro pudesse um dia ser cantada por 200 mil pessoas de uma só vez. Por isso não cantei. Apenas chorei. Foram lágrimas doces, suaves."

Reza a lenda que alguns se irritaram com as lágrimas de Braguinha e outros até chegaram a pensar que o famoso compositor fosse espanhol... Um torcedor brasileiro que não o conhecia, chegou a falar: "pô, a gente aqui dando um tremendo chocolate e esse cara aqui chorando..."

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